Expedição no Amazonas vai divulgar astronomia indígena

Calendário indígena do povo dessana associa constelações às mudanças do clima e ao ecossismte amazônico

  • Constelação cuja figura representa uma cobra surucucu segundo a astronomia indígena
    FOTO: Divulgação/Musa
  • Pajé Raimundo Dessana, morador da aldeia localizada na RDS Tupé, em Manaus
    FOTO: Alexandre Fonseca
  • Ritual de indígenas do povo dessana que vive em comunidade na zona rural de Manaus
    FOTO: Ney Mendes
Surucucu não é apenas a mais perigosa serpente da Amazônia. Para os povos indígenas da etnia dessana, também é uma das inúmeras constelações que os ajudam a identificar o ciclo dos rios, o período da piracema, a formação de chuvas e sugere o momento ideal para a realização de rituais.
Na astronomia indígena, outubro é o mês do desaparecimento da constelação surucucu (añá em língua dessana) no horizonte oeste - o equivalente a escorpião na astronomia ocidental.
O desaparecimento da figura da cobra está associado ao fim do período da vazante. Os dessana tem outras 13 constelações, sempre associadas às alterações climáticas.
Para divulgar a respeito da pouco conhecida astronomia indígena, um grupo de estudiosos promoverá no próximo dia 19 uma expedição de dois dias a uma aldeia da etnia dessana localizada na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Tupé, em Manaus.
Expedição
A comunidade é composta por famílias dessana que se deslocaram da região do alto Rio Negro, no Norte do Amazonas, e ressignificaram suas tradições, cosmologias e rituais na comunidade onde se estabeleceram na zona rural de Manaus.
O astrônomo Germano Afonso, do Museu da Amazônia (Musa), que desenvolve há 20 anos estudo sobre constelações indígenas no país, coordenará a expedição. Com os dessana, o trabalho de Germano Afonso é desenvolvimento há dois anos.
Ele descreve a programação como um “diálogo” entre a astronomia indígena e o conhecimento científico.
“Será um diálogo entre os dois conhecimentos. Vamos escutar os indígenas e ao mesmo tempo levar uma pequena estação meteorológica que mede temperatura e velocidade. A ciência observa com equipamentos, o indígena vê isso empiricamente”, explicou.
Uma embarcação da Secretaria Estadual de Saúde (Semsa) levará as pessoas interessadas em participar da experiência.
“Vamos fazer atividades de astronomia, meteorologia e química com os indígenas. Será uma atividade integrada à Semana de Ciência e Tecnologia”, explica Afonso.
O traço identificado como surucuru pelos indígenas é mais visível por volta de 19h, pelo lado oeste. Depois da surucuru, é a vez do tatu – outra espécie comum na fauna amazônica.
Desastres
Germano Afonso conta que os povos indígenas observam o céu, a lua, as constelações e sabem exatamente qual a época ideal para fazer o roçado, para se prevenir de uma cheia ou de uma seca. Também sabem qual o momento ideal para realizar um ritual.
A diferença em relação ao conhecimento científico, ocidental, é que não utilizam equipamentos e tecnologia para prever alterações do tempo e mudanças do clima.
Mas há uma diferença mais significativa: os indígenas não caem vítimas de desmoronamentos, de grandes cheias ou de uma vazante extraordinária.
“Quem tem mais cuidado com o meio ambiente e evitar os desastres ambientais? Os índios sabem exatamente quando vai cair uma chuva forte e teremos uma grande enchente. Mas eles não morrem por causa disso”, destaca Afonso, que tem ascendência indígena guarani.

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